quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Erros na hora da conquista

Erros na hora da conquista
Foto: Divulgação

Encontrar um homem que nos desperte o desejo de assumir um compromisso nem sempre é fácil. Mas como a mulher deve agir quando isso acontecer? Nessas horas é preciso tomar atitudes assertivas, e tomar cuidados para não usar os velhos erros na conquista.

A mulher tomar a iniciativa na hora da conquista não é uma atitude antiga, pelo contrário,
Por isso, muitos homens não sabem como reagir quando uma mulher se aproxima. Por outro lado, nós moçoilas muitas vezes trocamos os pés pelas mãos e acabamos errando a medida.

O psicólogo especialista em relacionamentos amorosos Thiago de Almeida, autor do livro "A arte da paquera - Inspirações à realização afetiva" (Editora Letras do Brasil, 2011), afirma que homens e mulheres têm posicionamentos diferentes na hora de seduzir, embora os dois tenham um papel ativo na paquera. "As mulheres podem usar de gestos que incentivam a aproximação do rapaz. Mexer nos cabelos e nos brincos, sorrir e lançar olhares são algumas delas", diz.
Já eles emitem sinais mais claros quando estão interessados. Quando a mulher age da mesma forma, os homens tende a se assustar. "Não é que as mulheres estejam erradas em agir desta maneira, são os homens que se sentem acuados", esclarece Thiago de Almeida. "Os homens tímidos tendem até a gostar de mulheres mais atiradas, elas assumem o papel que eles não têm coragem", completa.
É preciso tomar cuidado com comportamentos exagerados. A participante do BBB12 Renata Dávila tem errado muito nesta edição. Após um rápido affair com Jonas, a loira se mostrou completamente apaixonada, porém o Mister disse ter se arrependido dos beijos trocados. A partir daí, a mineira decidiu jogar todo o seu charme para reconquistar o bonitão. Ela tentou danças sensuais, chorou, mostrou carência e tentou convidá-lo para debaixo do edredom. Uma de suas últimas táticas foi a de provocar ciúmes, mas de nada adiantou.




"Esse comportamento errático reflete insegurança. Tentar fazer uma triangulação, provocando ciúmes, faz com que muitos homens a vejam como vulgar", opina Almeida. "Ela tem que ser segura, mas agir com naturalidade. Quem quer vai atrás, se ele tiver interesse vai te procurar", complementa. O psicólogo afirma que quando a mulher cria uma personagem especialmente para seduzir ela não tem força para remover as barreiras criadas depois.

Por Bianca de Souza (MBPress)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Namoro moderno : Os relacionamentos a um clique de distância. Como a turma com mais de 50 namora hoje?

Ah, o namoro! Antigamente era necessário um verdadeiro ritual até o homem aproximar-se da mulher, tocá-la e, muito depois, conseguir dar o primeiro beijo. Hoje, o ritual de aproximação ainda existe, mas a velocidade e a forma de se relacionar mudaram bastante. A maior independência das mulheres, a diminuição dos preconceitos e o advento da internet contribuíram para a mudança de comportamento da sociedade em torno do que antes era tão trabalhoso. E agora, como funciona o namoro moderno para quem já passou dos 50?
Quem namorou nas décadas de 1950, 1960 e 1970 fica pasmo com as mudanças que ocorreram no namoro de lá pra cá. O psicólogo e especialista em relacionamentos amorosos Thiago de Almeida diz que "o namoro passou por muitas fases e elas foram influenciadas pela época histórico-social em que o namoro ocorreu. Antes, o namoro começava nas pracinhas, em frente à igreja, e demorava até o rapaz sentir abertura para se aproximar da moça. As saídas do casal eram supervisionadas por alguém da família, inclusive quando consistia em apenas ficar sentado na sala. As mudanças que vemos hoje na forma de se namorar acompanharam a tendência do tempo".
Hoje, conhecer um novo parceiro está a dois cliques de distância – tanto para chegar quanto para ir embora. Para a mestre em Psicologia na área de estudo das subjetividades Noeli Godoy, "com o passar do tempo, as relações humanas, os encontros entre as pessoas, se tornaram cada vez mais superficiais. Antigamente, as pessoas procuravam conhecer uns aos outros antes do relacionamento. Com as tecnologias, os relacionamentos são mais fluidos e os encontros são mais superficiais. Com o clique do mouse, hoje, marca-se um encontro. As coisas tomaram uma velocidade tão grande que a superficialidade das relações aumentou na mesma proporção. Não se conhece mais tão bem o outro".
O advento do feminismo na década de 1970, o surgimento da internet e a revolução dos costumes também mudou bastante a forma de se namorar. "Os casamentos que ocorreram nas décadas de 1950 até 1970 têm durabilidade maior do que os que ocorreram nas décadas seguintes. A tolerância entre o casal era maior. Hoje, fica mais difícil tolerar o erro de uma pessoa que não se conhece direito. Antes, trabalhava-se mais o amor, a estabilidade era muito maior. Com a superficialidade dos relacionamentos atuais, não se conhece mais tão bem o parceiro. O tempo disponível para se aprofundar a relação e o conhecimento é menor", diz Noeli.
Como não podia deixar de ser, outra questão que evoluiu junto com o namoro e o relacionamento foi a traição. Segundo Noeli, "antes era mais comum a traição masculina, por questão de honra e de necessidade de se suprir os impulsos sexuais. Hoje, troca-se muito rápido de parceiro, a relação amorosa é superficial e a fidelidade já não é mais tão valorizada, por ambos os sexos. O que não se tem em casa, busca-se fora. As pessoas estão se relacionando em velocidade tão grande que, se têm uma necessidade, precisam supri-la agora. E, nesse caso, a internet é uma grande facilitadora do processo".

No entanto, quando o assunto é relacionamento, é preciso enxergar o outro lado da moeda. Afinal, a internet pode não ser tão prejudicial assim à vida a dois. "Não há nenhuma garantia de que um namoro iniciado pela internet vá durar pouco. Assim como não é certo que, por ter havido um bom conhecimento prévio do parceiro antes do casamento, ele vai durar a vida toda. A internet e a velocidade melhoraram as relações no sentido de que elas ficaram mais transparentes. Aspectos da personalidade que antes ficavam ocultos podem emergir logo. Antes, sentia-se que as relações eram mais montadas, que não havia tanta autenticidade quanto hoje. Por outro lado, no entanto, as relações hoje estão mais vulneráveis e mais egoístas. A internet é boa por afirmar a pessoa como sujeito, mas é ruim quando gera individualismo", avalia Noeli.

O individualismo, aliás, deve ser a questão-chave a ser trabalhada em um relacionamento moderno, inclusive para que já passou dos 50. "Para se garantir profundidade nas relações atuais, as pessoas devem lembrar-se de prestar sempre atenção no outro. Deve-se perceber se você está curtindo mesmo estar com a outra pessoa ou se está ali simplesmente para não ficar sozinho. 'O quanto eu estou feliz de cuidar daquela pessoa?', 'o quanto ela é feliz de estar comigo?'. Se não estiver rolando, pare agora e converse. Dizer o que está sentindo e, principalmente, ter abertura para ouvir o outro é essencial. Uma relação é uma via de mão dupla. Confiança e cuidado são essenciais em uma relação que tem amor", finaliza a especialista.


Limites da intimidade - banheiro de porta aberta, calcinha no box...

Limites da intimidade

No começo do namoro, quando estamos bem apaixonados, qualquer atitude do outro parece linda e bem intencional. A toalha molhada dele na cama, os fios de cabelo na pia do banheiro, tudo é tolerável e até "engraçadinho", mas e depois, até quando vai o limite da intimidade?
Com a chegada da rotina, algumas posturas deixam de ser tão belas assim.


O psicólogo Thiago de Almeida, especialista no tratamento das dificuldades nos relacionamentos amorosos e autor do livro "A Arte da Paquera: Inspirações à Realização Afetiva" (Ed. Letras do Brasil), diz que conforme a relação amadurece, algumas coisas incomodam e passam a abalar nossa zona de conforto.

Como exemplo, ele cita o filme "10 Coisas Que Eu Odeio em Você": "A moça invade o espaço dele em vários sentidos. Coloca detalhes rosa no banheiro, troca os lençóis dele e chama o companheiro de apelidos íntimos na frente de amigos, sem que isso tenha sido previamente conversado. E para alinhar umrelacionamento, saber o que pode ou não ser invasivo, nada mais importante do que o diálogo", afirma.
O jornalista Robson Morais, de 23 anos, concorda. "Um amor verdadeiro resiste a qualquer assunto, suporta a verdade. Briga acontece, término pode acontecer, mas o que há de ser, sempre prevalece". Ele defende ainda que a intimidade é conquistada, é uma linha que aos poucos se ultrapassa. "O limite é o respeito, o companheirismo. Não há abuso, mas há o bom senso, o caráter, o valor e, principalmente, o sentimento. A cumplicidade permite extravagâncias, mas o cuidado é necessário".
A namorada de Robson, Ariane da Silva, de 19 anos, completa: "A intimidade surge quando o bem-estar da outra pessoa passa a ser tão importante quanto o seu. E o abuso começa a partir do momento em que a pessoa se sente propriedade da outra, corrompendo o respeito básico que qualquer ser humano deve ter com o outro."
É fato que não existem regras quando o assunto é intimidade. Depende da experiência, do passado de cada pessoa. Mas Dr. Thiago ressalta: não se pode fazer nada aparentemente errado em nome do amor ou do ciúme sem achar que isso não possa se reverter de maneira negativa depois. "Com o tempo, o homem pode se sentir incomodado ao ver sua parceira adicionando todos os seus amigos no Facebook dela. Ele pode interpretar isso como um monitoramento de rede social", exemplifica.
Hugo Pereira, repórter de 35 anos, acredita que certos hábitos da pessoa não mudam, independente do tempo que o casal esteja junto. O que acontece é que a convivência vai gerando certas intimidades, sem eles mesmos perceberem. Para ele o lado preferido da cama, a calcinhapendurada na porta do box do banheiro, a toalha molhada em cima da cama são alguns exemplos que não atrapalham quando há equilíbrio entre o casal.
"Por outro lado, há uma coisa que se deve manter intacta: a individualidade. Eu particularmente jamais iria ao banheiro com a porta aberta e ficaria muito sem graça se encontrasse um absorvente sujo em cima da pia. Certamente eu não estaria com essa mulher!"
O psicólogo lembra ainda que abrir a carta do parceiro, mexer no celular sem autorização, vasculhar carteira/bolsa, mesmo que com boa intenção, pode incomodar. "Essa história de que entre o casal não existe segredo não tem muito fundamento. Seu parceiro tinha um passado antes de você chegar e nada justifica um ato que o desrespeite", diz.


Hugo Perez tem a mesma opinião: "Essas áreas extremamente pessoais e jamais devem ser invadidas pela parceira se não há um acordo prévio entre ambos. Os limites são impostos pela convivência e só irão funcionar com bom senso e constantes conversas entre o casal. Não faça para o seu parceiro o que não gostaria que fizesse para você!"

Ariane arremata: "Duas pessoas que se relacionam e se amam a longo prazo não se magoam intencionalmente. Acredito que joguinhos de egocentrismo existam num relacionamento imaturo, que dificilmente chegará a um certo patamar."
Por Juliana Falcão (MBPress)

O triunfo dos tímidos

O triunfo dos tímidos

O triunfo dos tímidos

por Ana Pago. Fotografia de Rui Coutinho/GI
Não sendo doença, a timidez afeta grande parte da população mundial e interfere com a vida social e a capacidade de agir. Num mundo darwiniano, em que ganham só os mais fortes e os mais adaptáveis, ainda há lugar para os tímidos?
A ideia que o público faz de Lady Gaga enquanto mulher inabalável não coincide nada com a realidade. Na verdade, a cantora é reservada, enerva-se em festas e ao conhecer pessoas novas, inibe-se diante dos homens e pedia à mãe que a acompanhasse para ter coragem de atuar em bares. É verdade que ainda tinha 14 anos e usava o nome de Stefani Germanotta. Mas a timidez que já revelava podia ter matado a sua carreira. Como acontece sempre que o ciclo de ansiedade que a timidez origina não for quebrado. E, de facto, não havia nada na vida de Lady Gaga que a impedisse de ser a grande artista que hoje é, como o tempo veio a provar. A timidez, como sempre, era um obstáculo que estava apenas no seu pensamento.
Como acontece com todos os tímidos. As estatísticas revelam que cerca de oitenta por cento das pessoas viveram períodos de timidez fortemente marcada durante a infância e a adolescência, algumas resolveram-nas e mais de quarenta por cento continuam a descrever-se como tímidas no presente. «As pessoas socialmente ansiosas sentem que os outros pensam mal delas ou estão a julgá-las, e daí resulta o seu potencial para a humilhação e para o embaraço», explica a psicóloga clínica Gillian Butler, investigadora no departamento de psiquiatria da Universidade de Oxford e autora do livro Ultrapassar a Ansiedade Social e a Timidez. «Os tímidos sentem que as coisas que supõem que os outros estão a pensar são verdade. «Eles não me querem com eles. Eles pensam que eu sou esquisito. Eles não gostam de mim.» Assim, podem acreditar que são diferentes ou estranhos, que não se integram, e têm a certeza de que vão fazer alguma coisa embaraçosa ou absurda que vai revelar as suas inaptidões ou fazer que sejam rejeitados», resume Butler.
A questão da timidez está apenas no pensamento de quem a tem, mas como ocupa uma papel central na ansiedade, a compreensão desta parte do problema é essencial para conseguir vencer o medo, o nervosismo e a apreensão que a maioria das pessoas vive frequentemente nas suas relações com os outros. A dificuldade que se prende com os altos níveis de ansiedade é o facto de interferirem com as atividades comuns e com a capacidade de pôr planos em ação. «Uma certa dose de ansiedade é útil se se tiver de ir a uma entrevista ou fazer um exame: pode dar energia, motivação e ajudar à concentração.» Mais do que isso, impede que as pessoas façam aquilo que querem no imediato. E, a longo prazo, pode ter diferentes efeitos nas carreiras, nas relações pessoais, nas amizades, no trabalho, nas atividades de lazer e na qualidade de vida.
Ninguém gosta de se sentir angustiado, mas é possível viver bem com a timidez desde que se impeça que seja ela a dominar - roubando oportunidades que outros tomam por garantidas - e se tire partido dos pontos fortes de cada um. No caso de Lady Gaga, para contrariar aquele sentimento de nervosismo que a inibia de subir ao palco sem medo do escrutínio dos outros, mudou radicalmente a imagem, encarnando uma personagem confiante, destemida e segura do seu talento. Trocou o cabelo escorrido e o rosto juvenil por maquilhagem carregada e os modos de uma gata selvagem, capaz de levar tudo à frente, num assomo de energia criativa. Em vez de ganhar a vida cantando êxitos de terceiros (como fazia), transformou-se na diva loura que rivaliza com Madonna no palco e na estranheza do vestuário, que ou é escasso ou chocante. Para rematar, tornou-se a primeira pessoa a chegar aos 18 milhões de seguidores no Twitter (menos de um ano depois de ter batido o recorde dos dez milhões) e conta com mais de 46 milhões de fãs no Facebook.
Aprender a enfrentar os problemas resulta melhor, a longo prazo, do que atirar as culpas para outra pessoa ou evitá-los por medo de rejeição. Não é necessário conhecer tudo acerca do que causou o problema para descobrir qual a melhor maneira de o aliviar, até porque ninguém sabe exatamente definir a timidez. Cada pessoa tem uma perceção única daquilo que sente, razão por que terá também de ser ela a encontrar a sua própria receita para lidar com os desafios.
A infinidade de actores, cientistas, escritores, músicos, economistas, activistas e políticos tímidos que se destacaram nas suas áreas de actividade pelo mundo provam ser possível viver a vida que sempre se sonhou ter, apesar dos constrangimentos. Ninguém diria, por exemplo, que Rui Unas é tímido. Ele explora bem a imagem de homem extrovertido, irrequieto, nada acanhado a falar de temas constrangedores ou a inventar piadas porcas. «Publicamente, a minha persona laboral está nos antípodas da timidez», diz o apresentador, autor, produtor e ator de 37 anos. Assim mostra a forma como se apresentava no Cabaret da Coxa, na SIC Radical, em que aparecia desbocado e rodeado de mulheres nuas e de um papagaio que dizia asneiras. E também, logo de início, as conversas picantes que tinha com senhoras cinquentonas, aos 19 anos e quando começou na Rádio Seixal. «Parece contraditório mas eu gosto de comunicar, de falar com pessoas. Num registo profissional, não sinto qualquer dificuldade em fazê-lo», diz.
Mas a verdade é que Rui não gosta de ser o centro das atenções. Não bebe, não gosta de sair até de madrugada, não se obriga a marcar presença nas festas de social [a sua agente insiste para ele deixar de ser bicho do mato, mas o desconforto é grande]. Prefere passar despercebido e é reservado a falar para muita gente, e diz que isso é por vezes confundido com arrogância ou pretensiosismo. «Na adolescência, a timidez até funcionava na hora de arranjar namoradas, e comecei a utilizar o humor para me afirmar nos meus grupos de amigos», conta Unas. A tática foi aperfeiçoada com tal requinte que ainda hoje, nos momentos em que se sente mais nervoso ou inseguro, é quando dá por si mais rebelde e extrovertido. «A determinada altura, a única opção é baixar totalmente as defesas, ficar imune à autocrítica, como se saltasse de bungee jump. Claro que há que ter uma segurança para não nos estatelarmos ao comprido, no meu caso a corda é o bom senso», diz. Quando não há câmaras, o treino também o ajuda a superar-se: «Basta fazer um clique e ser um bocadinho a pessoa da televisão. Que no fundo sou eu também, não é um falso Rui, mas descobri-o através da minha actividade profissional.»
Esta é a mesma estratégia de Maria Rueff, outra tímida inusitada. «Mesmo quando estou à civil, fora do meu ambiente familiar, sirvo-me de um lado mais histriónico para enfrentar as pessoas. Sou timidíssima.» Ainda miúda encarnou o papel de palhaço de serviço da família: um modo de chamar a atenção, disfarçando a dificuldade em socializar-se. Passou a ser essa a sua âncora para chegar aos outros e lidar com os fãs, já que não tem manhas e se aflige com a competitividade e os olhos postos nela. «Continuo a ser como nasci, a ter nervos, ansiedade, a roer as unhas. Mas sou privilegiada por fazer o que gosto com quem gosto. O humor só se faz bem em família e a mim ajuda-me imenso por ser como sou», admite, feliz com o êxito deEstado de Graça (programa humorístico da RTP1) e com o facto de ter acabado a peça A Fuga em Lisboa e preparar-se para entrar em tournée. Ser atriz nunca foi objetivo seu: incapaz de ultrapassar a barreira de ir a castings por detestar a pressão de mostrar o que vale em cinco minutos, as coisas aconteceram-lhe naturalmente, convidada uma e outra vez por responsáveis que a viam atuar e adoravam o estilo.
Esta forma de ultrapassar a timidez não é rara. Foi descrita pelo escritor brasileiro Luís Fernando Veríssimo na sua crónica Da Timidez. «O extrovertido faz questão de chamar atenção para a sua extroversão, assim ninguém descobre a sua timidez. O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as atenções se voltam para ele. Se cochicham, é sobre ele. Se riem, é dele. Vive acossado pela catástrofe possível: vai tropeçar e cair, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem a certeza de que, cedo ou tarde, vai acontecer o que o tímido mais teme e lhe tira o sono: alguém vai passar-lhe a palavra.» Aos 75 anos, a timidez ainda atrapalha Veríssimo, na comunicação - que não é escrita - com os outros e na vida social. E ainda mais no Brasil, um país que não é conhecido pela sua timidez. «Todo o mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes», explica, na sua crónica, defendendo a tese de que não adianta um tímido tentar convencer-se de que só tem problemas com multidões, já que duas pessoas são uma multidão para ele.
Não é difícil encontrar tímidos. Luís Filipe Borges, 34 anos de nervoso miudinho bem disfarçado, é um dos anfitriões e guionistas do programa 5 para a Meia-Noite e recorda-se do momento preciso em que deixou de ser um tímido introvertido para passar a tímido extrovertido: estava ele a começar o seu segundo ano em Direito quando o grupo de teatro da faculdade, Direito Cénico, abriu inscrições e acabaria por escolher meia dúzia de pessoas. «Foi o teatro universitário, essa enriquecedora experiência de sete anos (ainda lá fiquei uns anitos após terminar o curso), com algumas centenas de espetáculos e muitas viagens, que me fez dar o salto no que à timidez diz respeito», adianta o apresentador e comediante, eternamente agradecido aos colegas que o inscreveram no último dia do prazo, sem imaginarem que seria esse traquejo a permitir-lhe separar a timidez pessoal do trabalho. «Encarar o meu ofício como uma paixão e não como emprego também ajuda, além de que, no caso concreto dos diretos de TV ou nas situações perante plateias, sinto sempre uma injeção de adrenalina que me transforma numa espécie de versão melhorada: os nervos antes do evento existem como da primeira vez, mas depois basta ouvir o genérico ou o aplauso e até esqueço que sou fumador. É para fazer, é para fazer», ri-se.
Hoje é raro Luís corar, exceto se lhe acontece recordar alguns dos momentos da juventude que o fizeram ficar afogueado. «Penso que foi esta profunda timidez, aliada ao facto de ser açoriano de uma pequena ilha com setenta mil habitantes (a Terceira), aquilo que inconscientemente me fez defender através das palavras escritas.» Apaixonou-se pela leitura e pela ideia de escrever para viver ao sentir-se impedido de abordar as meninas bonitas, que o intimidavam. Ainda agora, quando entrevista alguém que admira, faz questão de assumir essa faceta e conversar um pouco com a pessoa antes de tudo começar, de forma a quebrar o gelo e impedir-se de corar logo na primeira pergunta. «Se for uma situação particularmente difícil, penso em quem me queira mal e vou, uma espécie de "ai é?" invisível. Motivo-me através de um desafio que lanço a mim mesmo: provar que tenho de ser capaz», confidencia. De resto, naquele que se tornou o seu quotidiano profissional normal, deixou de precisar de táticas porque os tímidos, à medida que vão ganhando traquejo, duvidam cada vez menos de si. A existência nem sempre é fácil e eles sentem-no na pele, mas para a maioria, no fim, o triunfo sobre os seus próprios medos é um convite ao descanso.
Atualmente, aceita-se como principais causas da timidez os fatores biológicos como o temperamento ou o sistema de alerta com que nascemos, as vivências de infância e as relações com os pais, as oportunidades de aprendizagem social, as experiências más ou traumáticas, a dificuldade em lidar com as exigências de diferentes fases da vida, as pressões que afetam as relações com os outros e a experiência de se ser avaliado, elogiado ou criticado. Numa época de domínio da imagem, dos reality shows e do imediatismo, em que a regra é aparecer a qualquer preço, são os tímidos quem mais sofre. «Perdemos a tolerância com quem precisa de mais tempo para tomar as suas decisões e essa é justamente uma das características dos tímidos», constata Bernardo Carducci, director do Instituto de Pesquisa da Timidez da Universidade de Indiana e autor do best-sellerTimidez. No topo das situações mais constrangedoras conta-se falar em público, ser elogiado, pedir aumentos ao chefe, fazer reclamações e negociar preços.
Ainda assim, a timidez tem vantagens: ao mesmo tempo que existe menos propensão para internamentos e acidentes, o tímido mantém melhor as relações afetivas, pensa com mais cuidado, tem maiores capacidades de liderança porque ouve e implementa ideias dos outros, concentra-se no essencial e é mais produtivo a organizar os locais de trabalho. É o caso de Filipe Silva Santos, um empresário de 39 anos e espírito pragmático e que foi simultaneamente criador e cogestor de alguns projetos na área da restauração e diversão noturna: o Theatro Circo Café e o Colinatrum Café, em Braga, além da segunda temporada deQuanto Baste, em Esposende. Abandonou entretanto esta atividade para se dedicar em exclusivo às funções de técnico, comercial e sócio gerente da JPrudêncio, empresa de impermeabilizações. Sempre teve dificuldade em socializar. «Uma vez, o meu pai perguntou-me, e aos meus irmãos, quem tinha feito determinada asneira. Corei, como acontece frequentemente, o que me condenou sem ser culpado. Nem oportunidade tive de retorquir», recorda. Como homem de negócios, arranjou ferramentas para ultrapassar a timidez. Sabe ser formal e abordar assuntos profissionais que domina, mas também tira partido da timidez deixando o interlocutor desprevenido para uma possível reação que não esperava. «A atitude empresarial é, não raras vezes, combatente e competitiva. Não há espaço para timidez quando se trata de rematar à baliza.» Concentra-se no que tem de fazer e obriga-se a agir, sem demasiadas considerações ou conjeturas, isto além de evitar situações que lhe causem demasiado constrangimento, como falar para grandes plateias. «Deixei de sofrer por antecipação. Na maior parte das vezes reagimos melhor do que imaginamos e o pior é a ansiedade de pensar de mais nas situações problemáticas que temos pela frente», diz.
Esta forma de evolução faz também parte da história da timidez: existe desde os primórdios e terá contribuído para a evolução da humanidade, de outro modo não teria resistido como traço de personalidade. Alguns cientistas que estudam o comportamento animal associam a timidez ao instinto de lutar ou fugir dos primeiros homens diante dos predadores: mesmo que um deles sucumbisse ao atacar a fera, a fuga dos outros garantia a sobrevivência da espécie. «A exemplo deles, sentimos que qualquer aproximação perigosa para a nossa integridade moral ou física deve ser evitada e é isso que fazemos», observa o psicólogo e investigador Thiago de Almeida, especialista em relacionamentos amorosos e consultor em gestão de recursos humanos e qualidade de vida. Basta substituir os mamutes e os leões de tempos antigos por um chefe inacessível, uma mulher deslumbrante que se quer convidar para sair, um grupo de ouvintes particularmente crítico ou um colega de trabalho mais agressivo.
DICAS SIMPLES PARA ULTRAPASSAR A TIMIDEZ
1. Escolha uma habilidade social de cada vez para praticar. Eventos sociais, falar em público, conquistar o sexo oposto.
2. Reserve tempo para aquilo de que gosta, que o interessa e em que é bom. Faça um esforço nessas áreas. Fazer cursos ajuda a melhorar habilidades e a socializar.
3. Aprenda a pensar de forma diferente: eu consigo. Isso traduz-se quase sempre numa mudança de reação diante das situações sociais.
4. Avance ao seu próprio ritmo, descobrindo o que funciona consigo.
5. Não arranje desculpas e recompense-se por cada pequena vitória.
6. Ria-se mais. Lembre-se de rir e leve a vida de modo mais leve.
7. Imagine para si o que diria ou faria em diversas situações.
8. Faça um teste de confiança todas as manhãs: pergunte as horas a um desconhecido, cumprimente o motorista do autocarro ou ofereça um café a um colega.
9. Anote num caderno as experiências do dia, sem esquecer as reações favoráveis das pessoas, os sentimentos, as emoções, as conquistas e as perceções face a cada teste.
10. Diga às pessoas que é tímido: evita que elas tenham de fingir que não o estão a ver corar e desviar os olhos ou, no caso de não ser dos que apresentam sinais físicos, que confundam a pose controlada com arrogância.
TÍMIDOS QUE FIZERAM HISTÓRIA
Albert Einstein - Foi uma criança tímida a tal ponto que se pensou que teria problemas mentais e, em adulto, continuou a ter dificuldade em expressar-se. Nada que o impedisse de desenvolver a Teoria da Relatividade nem de lutar contra a corrida ao armamento nos anos 1950.
Clara Barton - «Tímida como um rato, mas brava como um leão», assim era descrita a fundadora e primeira presidente da Cruz Vermelha americana, que foi ainda professora e enfermeira humanitária, dedicada a ajudar os outros.
Bob Dylan - Jovem tímido e introspetivo, o músico Eric Clapton dizia de Dylan não se lembrar de alguma vez o ter visto a conversar com alguém. Nem por isso a revista Rolling Stone deixou de o considerar o segundo melhor artista de todos os tempos, a seguir aos Beatles.
Brad Pitt - Discreto e tímido na sua vida pessoal, o ator contraria essa imagem no ecrã interpretando essencialmente personagens carismáticas e seguras de si.
Cher - Muito tímida no início da carreira, em que apenas conseguia subir ao palco com o marido por perto, a artista desabrochou e construiu uma carreira de sucesso como cantora, atriz, apresentadora e produtora cinematográfica e musical.
David Bowie - Exuberante, o comportamento de Bowie foi uma estratégia para lidar com o medo. «Sou terrivelmente tímido», declarou numa entrevista. «Então, exagerei para compensar. Pensei que se tivesse um tipo alarmante de reputação teria de aprender a defender-me e sair de mim mesmo.»
Julia Roberts - Na adolescência tinha vergonha de falar com os rapazes da sua idade e sempre imaginou que seria veterinária, não a atriz mais popular dos EUA. Ainda hoje fica vermelha em algumas situações e sente vergonha quando tem de filmar cenas de sexo no cinema.
Elvis Presley - Tímido e com dificuldade em fazer amigos, levava a viola para a escola para se sentir acompanhado e fez da música refúgio para o isolamento. Libertou-se mais tarde no palco, a dançar com os movimentos sensuais que enlouqueciam as mulheres e o elevaram a rei do rock.
George Harrison - Ficou conhecido como o Beatle tímido pelo caráter introspetivo e as poucas falas, mas a genialidade como guitarrista e a popularidade entre amigos venceram barreiras.
Jim Carrey - A facilidade em fazer os outros rir com as suas caretas é assombrosa, mas em criança o ator sofreu de timidez e falta de amigos. O humor foi decisivo para vingar no cinema e na vida.
Neil Armstrong - A sua timidez e tendência para a reflexão eram muitas vezes confundidas com arrogância pelos colegas, mas foi ele quem comandou a missão Apollo 11 e pisou pela primeira vez a superfície lunar naquele que foi um gigantesco passo para a humanidade.
Tom Hanks - A família vivia em mudança constante quando ele era criança, razão por que o ator cresceu tímido e com dificuldade em fazer amigos. O envolvimento no teatro ajudou-o a libertar-se e a fazer dele uma das figuras mais conceituadas de Hollywood.
Agatha Christie - Herdou a personalidade tímida da mãe, foi educada por ela num ambiente quase recluso e terá desistido de uma carreira na música por medo do palco. A escritora canalizou a criatividade para a escrita, tornando-se a autora mais vendida do mundo.
3 PERGUNTAS A... Maria de Lourdes Sola, psicóloga comportamental e cognitiva, especialista em transtornos de ansiedade
Qual a melhor forma de lidar com a timidez, sabendo que ela assume características e graus distintos consoante o tímido, a cultura a que pertence, a sua resistência, o ambiente, as ajudas que pede e outros factores?
_Para os amigos e familiares, a melhor forma de lidar com o tímido é respeitá-lo sem cobrança e sem enfatizar tal dificuldade, propiciando-lhe oportunidades de exposição gradativa. Já para o profissional (psicólogo), o trabalho é feito com o fortalecimento da autoestima, autoconfiança e assertividade, juntamente com um trabalho de exposição gradativa e contando por vezes com a colaboração do acompanhante terapêutico, um auxiliar do psicólogo que acompanha o paciente no trabalho de treino das habilidades sociais.
Ser tímido nem sempre é sinónimo de isolamento, solidão e afastamento...
_Não, mas uma pessoa tímida perde frequentemente oportunidades de emprego, de relacionamento afetivo e de participar em eventos que lhe poderiam render oportunidades. O tímido não está fadado ao fracasso, apenas terá menos oportunidade de ser feliz se não aprender a lidar com a sua timidez.
Qual o melhor conselho que se pode dar a um tímido num tempo e numa sociedade que privilegiam a oratória, a imagem e a resposta rápida - tudo coisas que o desfavorecem?
_Que procure ajuda terapêutica junto de um profissional de saúde, de preferência que tenha prática em trabalhar com comportamento humano (um analista de comportamento) para o dotar das estratégias adequadas que lhe permitam enfrentar e participar em eventos sociais sempre que possível. A timidez não irá evoluir necessariamente para uma fobia social, mas existe essa possibilidade. E a fobia é bem mais grave porque envolve respostas físicas intensas diante da aproximação de qualquer evento social, de modo que o isolamento, aí, trará muito mais prejuízos.