quarta-feira, 21 de junho de 2017

SÍNDROME DE AFRODITE



Antes de negociar a compra de seu carro, a advogada paulista Maitê (nome fictício), 30 anos, gastou um bom tempo em frente ao espelho. Escolheu um vestido provocante, um salto bem alto e caprichou na maquiagem.

Toda essa produção lhe ajudaria no flerte com o vendedor para conseguir um desconto generoso. “Deu super certo! Ele abriu mão de parte de sua comissão e me deu um aba...timento de quase R$ 10 mil”, conta Maitê.

“Foi simples: joguei um charminho, falei meio sussurrado, fiz a linha ‘donzela desamparada’… Infalível!”, diverte-se a advogada, sacudindo a cabeleira ruiva que conseguiu encantar o rapaz da concessionária.

No dia a dia, ela costuma recorrer ao mesmo tipo de estratégia: seja para que o fiscal do aeroporto faça vista grossa ao seu excesso de bagagem, seja apenas para rea­firmar a autoestima. Ganhando um drinque do barman gato no balcão, por exemplo. Maitê não esconde: é viciada em seduzir.

“Gosto de conquistar os homens. Quero que pensem que passar um tempo comigo seria a coisa mais incrível que poderia lhes acontecer”, diz. “Às vezes nem percebo que faço isso. Outro dia, estava apenas conversando com um cara na balada e pensaram que eu estava paquerando. É porque jogo o cabelo demais, olho nos olhos, fico tocando no braço…”

Você certamente conhece uma mulher como Maitê, que entra em estado de alerta quando uma presença masculina se aproxima. Ou talvez até seja uma delas. Segundo o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP, para essas mulheres com a "síndrome de Afrodite” (a deusa grega do amor, da beleza e da sexualidade), o jogo da conquista, sempre vai se impor a qualquer resultado.

“Para as sedutoras costumazes, sentir‑se desejada é o ganho e elas se contentam com isso”, explica. Muitas vezes, se vão até o fim para concretizar a atração que despertam, o seu prazer desaparece. O que querem é retornar ao momento inaugural e único em que o desejo começa. Por isso é comum elas iniciarem flertes, com um colega do escritório ou com o caixa de um supermercado, e não levarem nada adiante.

Dunker diz que a conduta das “afrodites” lhes traz problemas. Em especial, com amigas, primas, colegas de trabalho e outras figuras femininas com quem convivem. “Para as sedutoras, as outras mulheres estão sempre competindo com elas. Então, precisam garantir ‘seu lugar’ antes que a ‘rival’ o tome.” No caso, o “lugar” é a atenção dos homens.

O psicólogo Thiago de Almeida, autor do livro Enigmas do Amor, vai além: diz que a sedução, em muitos casos, é o único recurso que essas garotas têm para se relacionar. “Essa atitude pode vir de uma necessidade inconsciente de estabelecer laços, de ser notada ou cuidada.”

Almeida afirma ainda que esse comportamento também se dá entre os homens. “Mas eles têm apoio social para agirem assim, sendo galinhas ou machistas.”

A empresária paulista Thaís, 35 anos, conta que sempre chamou muito a atenção masculina. Não necessariamente pela beleza, mas por causa de seu “jeitinho”. “É espontâneo: mexo no cabelo o tempo todo, tenho um bocão e estou sempre sorrindo ou fazendo bico enquanto falo”, diz ela, que no antigo emprego era conhecida como “a Julia Roberts da seguradora”.

Thaís cita um episódio recente para mostrar como o ritual da conquista a diverte. “Estava em um café com uma amiga e um rapaz pediu que eu passasse o açúcar ao meu lado no balcão. Engatei o maior papo com ele, foi uma paquerinha mesmo”, conta. “Não estava nem um pouco a fim, mas me diverti com o fato de ele pensar que eu estava dando mole.”

Mesmo sendo casada há dez anos e mãe de duas meninas, Thaís “brinca de seduzir”. “Quando era solteira, ficava com medo de cair na boca do povo e ser chamada de galinha. Hoje, como sou comprometida, posso flertar à vontade que os outros sabem que é brincadeira”, afirma. “Meu marido não sente ciúmes. Já me viu jogando charme para o manobrista e deu risada.”

A publicitária paulista Vanessa, 26 anos, uma mestiça de corpo escultural, estilo Sabrina Sato, é outra que sabe de seu grande magnetismo com os homens. Conta que sempre viveu cercada de amigos e que, muitas vezes, seduz sem se dar conta. Ela dar um exemplo com um episódio que envolveu um amigo de um ex-namorado.

“Logo depois do rompimento, encontrei esse rapaz. Conversamos e o convidei para treinar comigo na academia. Ele foi e começou a dar em cima de mim, de um jeito insistente.” Ao dispensar o rapaz, Vanessa se surpreendeu. “Ele me disse: ‘Você sempre me azarou, mesmo enquanto namorava. Por que está fazendo isso agora?.”

Ao pensar a respeito, a publicitária percebeu que, em algumas ocasiões, não fez lá muita questão de deixar claro se estava ou não paquerando. “Não vejo mal nenhum em olhar, sorrir e bater papo de um jeito sedutor. E não acho que deva mudar”, conta.
No entanto, Vanessa, que está namorando há quatro meses, a partir de então, decidiu reavaliar a conduta.

“Meu namorado é um doce, nada ciumento. Mesmo assim, se estou num bar e por acaso meu olhar cruza com o de um cara, desvio na hora. Antes, meu primeiro impulso seria sorrir de volta.” A publicitária lamenta o preconceito que as “afrodites” sofrem. “Quando um homem vê várias garotas bonitas em uma festa, é esperado que ele dê em cima de todas. Por que nós somos condenadas e sofremos críticas até das outras?” Puro machismo.

Texto: Dolores Orosco
Fonte: Marie Claire

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