sexta-feira, 22 de junho de 2012

Viver a rotina


A rotina é, com imensa freqüência, acusada de ser a grande vilã das separações e, não raramente aos comportamentos relacionados à questão da infidelidade. Dessa forma expressões como: "Nosso casamento não resistiu à rotina"; "a monotonia acabou com o sonho" são alegações cada vez mais presentes para os recém-separados, e parceiros infiéis, como se a responsabilidade de conduzir sadiamente a relação estivesse fora deles. Há de se ressaltar que a monotonia não bateu na porta desses casais, tampouco entrou sem ser convidada. Ela nasceu das vísceras da relação.
Muitas vezes e equivocadamente relacionam rotina com monotonia. Monotonia é uma figura de linguagem que designa o hábito de fazer uma sequência de usos ou atos que se faz cotidianamente de forma mecânica. Já a monotonia é uma palavra que significa manter o mesmo tom. Consequentemente, a monotonia não é a vilã somente do casamento, mas da própria vida. E a percepção de que a monotonia se instala em um relacionamento, pode levar o casal a pensar que o relacionamento foi um erro. Estas e muitas outras ruminações mentais a respeito do comportamento do parceiro afastam mais e mais as pessoas umas das outras ao invés de encaminhá-las para serem felizes juntas e unidas por um mesmo ideal.
A rotina monótona difere da monotonia rotineira. A primeira precisa de mudança de atitude, a segunda de intervenção e de tratamento. Então, um matrimônio, por exemplo, deteriora-se quando não se renova, quando se permite que entre nos trilhos da monotonia. E assim, entra-se numa espécie de letargia mortífera. Muitas infelicidades, muitas crises conjugais, muitas deserções são provocadas por esse fenômeno.

Rotina é bom − Ao contrário do que muitas pessoas podem imaginar nem toda a rotina é prejudicial ou mortífera para os relacionamentos. Algum grau de rotina é indispensável para a vida e otimiza muitos processos cotidianos. Há rotinas indispensáveis e benéficas que nos permitem cumprir com regularidade, constância e pontualidade os nossos deveres espirituais, familiares e profissionais, e dessa forma, proporcionam ao casal sentimentos de estabilidade e segurança. Nesta acepção, a rotina favorece a edificação de uma estrutura de vida sólida, cria um comportamento homogêneo que nos ajuda a nos emancipar da espontaneidade meramente anárquica, dos caprichos emocionais, por vezes, conflituosos e perniciosos. Também proporciona aos componentes do casal uma maior facilidade de organização espaço-temporal, e a liberta do sentimento de estresse que uma rotina desestruturada pode causar.
Caso não existisse uma tendência aos comportamentos caminharem para a rotina, o ser humano gastaria muita energia e demais recursos para compreender e acompanhar as novas realidades com as quais interage. Neste sentido, estar casado com alguém, por exemplo, significa conviver diariamente com um sem-número de pequenas rotinas que podem serem consideradas fatores de satisfação a medida em que se emana da relação comportamentos mais relacionados a sinergia que você tem com sua mulher ou com seu marido, e não da segurança, dos filhos, do patrimônio, das aparências.
Estar casado com alguém é dividir os momentos que se repetem e, por esta mesma razão, se aprimoram, ou seja, ao contrário do que se imagina costumeiramente, a rotina pode ser rica, alegre e prazerosa, proporcionado espaço para a construção diária de sentimentos positivos para o casal.

Passou a paixão − Queiramos ou não admitir, passados os primeiros arrebatamentos dos apaixonados, a familiaridade com o outro influencia os rumos da relação, e ao se conviver e conhecer melhor os parceiros escolhidos descobre-se que existem imperfeições nos seres amados. Familiaridade é apenas uma manifestação da intimidade. A palavra de ordem deste século é parceria. Estão trocando o amor de necessidade, pelo desejo. Não devemos encarar o outro ao qual elegemos para trilhar um caminho juntos como príncipe/princesa ou salvação de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Assim, se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.
O ser humano é complexo demais para se tentar entender por completo, pois cada um é apenas terreno de si próprio e, olha lá. O outro foi e será sempre será uma caixinha de surpresas tem como você conhecer a fundo, mais nunca totalmente. Somente é possível conhecer o outro com a convivência à longo prazo. Apesar das possíveis dores, ocorrem algumas interessantes possibilidades: saber com quem se está lidando; desenvolver um agradável afeto; aumentar a probabilidade de um melhor relacionamento. E lembre-se as pessoas mudam a cada dia, embora nem sempre os outros, você ou seu parceiro percebam.
Este desvelar contínuo do outro vai muito além dos hábitos superficiais e entra num mundo interior de pensamentos, convicções e sentimentos. Penetramos psicologicamente em nossa cara-metade, conversamos, escutamos, compartilhamos e comparamos. Mostramos certas partes nossas, enquanto floreamos e escondemos algumas e brincamos com outras.
Destarte, alguns pontos que antes eram encantadores, ou mesmo, não observados, começam a ser percebidos e passam a incomodar os componentes desta díade estabelecida. Consequentemente, o romantismo pode ficar cada vez mais rarefeito e os conflitos, impaciências e as tão temidas cobranças tornam-se realidades cotidianas vivenciadas pelo casal. É importante ressaltar que os conflitos ocasionais são uma conseqüência natural da intimidade e da interação entre os pares. A solução está em detectar se essas diferenças são tão incompatíveis que possam se tornar uma ameaça real ao futuro da relação.
A rotina instalada na vida do casal, os parceiros interagem no mundo dos hábitos um do outro, e essa familiaridade os tranqüiliza e, uma vez inserida na interação do casal, a rotina promoverá um sentimento de estabilidade. Com o passar do tempo e o aumento da familiaridade, os parceiros se livram de alguns cerimoniais e de episódios de constrangimento. Entretanto, há pessoas que se acomodam ao longo da vida e nos relacionamentos que estabelecem, sobretudo, nos relacionamentos amorosos. Os casais que vão aos poucos tomando consciência de uma intranqüilidade, de uma frustração e de mágoas crescentes, e em geral, não sabem onde o problema se localiza, dificultando ainda mais a solução do mesmo. Portanto, a rotina pode ser algo positivo ou negativo de acordo com a forma como se a percebe e conduz. Nesse sentido, costuma-se classificar a rotina em benéfica ou mortífera.
A rotina mortífera é aquela que passa do hábito para o costume e torna-se acomodação. Esta rotina torna os parceiros práticos, mecânicos, automatizados e apáticos. Essa rotina se caracteriza pela monotonia densa, que torna a vida insípida, uniforme, tediosa e previsível, que passa a reclamar por uma renovação. Logo, a rotina torna-se prejudicial quando não mais se renovam os planos, os programas, a maneira de lidar consigo próprio, com os outros e com o mundo, ou seja, quando não se reinventam formas diferentes de fazer e perceber as mesmas situações. Muitos relacionamentos tornam-se sociedades crônicas de queixumes, sobretudo, quanto mais tempo durar a relação. De fato, não é a rotina que é ruim, mas sim, a falta de criatividade e a acomodação. Portanto é necessário saber administrar, isto é, usufruir o que a rotina traz consigo de positivo e repelir o que, nela, pode corroer a relação amorosa.
Vida a dois é aprender o significado das palavras: companheirismo, renúncia, perdão, respeito, cumplicidade, paciência, inclusive sabermos manejar rotina. Saber lidar com a rotina e tê-la como aliada e não tê-la como nossa rival.

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