Perigosa obsessão
Há quem acredite que um pouco de ciúme não faz mal a ninguém. Mas, apesar de parecer normal em certos momentos, quando se torna exagerado, ele pode levar a atos violentos e até a assassinatostalita.boros@folhauniversal.com.br
Thiago de Almeida, psicólogo especializado no tratamento das dificuldades nos relacionamentos amorosos, explica que o ciúme patológico ou obsessivo é baseado apenas em atitudes retalhadoras e em ações negativas para o relacionamento. “A pessoa obsessiva tem uma alta quantidade de comportamentos explosivos e intensos, como brigas. São sempre atitudes recorrentes”, afirma. Segundo o especialista, as características mais comuns das pessoas extremamente ciumentas são a insegurança e a baixa autoestima. “Todos nós somos ciumentos, mas os patológicos são os causadores de crimes”, completa.
Outro caso que chocou o Brasil foi o de Paula de Souza Nogueira Farias, de 22 anos, torturada e queimada pelo ex-marido Neliton Carvalho da Silva, de 25 anos, na favela do Terreião, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio de Janeiro. Paula contou que Neliton a torturou por cerca de 4 horas, suspeitando que ela o tivesse traído. Ela teve pernas, braços e rosto queimados e a polícia confirmou que a violência foi causada por ciúmes. Além das queimaduras, o ex-marido escreveu o próprio nome nas costas da jovem, com uma faca quente. Paula sofreu todas as agressões na frente do filho.
A procuradora Luiza Nagib Eluf, em seu livro “A Paixão no Banco dos Réus – Casos Passionais Célebres: de Pontes Visgueiro a Pimenta Neves”, afirma que todo crime passional é cometido por ciúme. “Se não houver ciúme, não é chamado de passional. É o ciúme possessivo, machista e descontrolado. O termo passional vem de paixão. Esse sentimento, a paixão, pode ser amoroso ou pode decorrer do sofrimento e gerar ódio”, destaca. Segundo a procuradora, o amor verdadeiro não leva ao crime. “A violência extrema, que é o assassinato, somente ocorre quando o agente não ama o outro e fica possuído de um desejo de vingança decorrente do amor próprio ferido”, aponta. “Em sua relação com a parceira, o homicida passional somente enxerga a si próprio. Para ele, pouco importam as necessidades, os anseios, os sentimentos de sua parceira. Trata-se de uma pessoa autocentrada que vê na mulher o espelho de sua vaidade”, completa.
Segundo Kelen de Bernardi Pizol, psicóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP), além do patológico, existem outros dois tipos de ciúme: o normal e o excessivo. “O ciúme normal não é ruim. Ele funciona como um sensor de perigo da relação. Já o excessivo é aquele que a pessoa tem reações exageradas, mas que não ultrapassam a normalidade”, explica. Kelen afirma que o sentimento tem a ver com insegurança, com o modo em que a pessoa se vê, em como vê o parceiro e como ela enxerga o amor. De alguma forma, o enciumado acredita que está cuidando do parceiro e tomando conta da relação.
Para o escritor Ubiratan Rosa, autor do livro “Mais Amor, Menos Ciúme”, o ciúme é o instinto de posse ainda em pequeno grau de educação ou evolução espiritual, e é ligado por um forte impulso egoístico, quase sempre baseado em indícios imaginários, que realmente pode chegar a uma intensidade capaz de conduzir a crimes passionais. “Apenas com um equilíbrio saudável entre ciúme e confiança se pode ter certeza da devoção e do amor do parceiro.” Segundo ele, “vencer o ciúme” ou “curar o ciúme” são forças de expressão. “O possível é a vivência inteligente com ele, e, para isso, o sujeito precisa ter boa vontade e criar estratégias para o alívio dos tormentos do zelo excessivo. É indispensável um empenho contínuo no processo de autoconhecimento e transformação moral. Empenho esse que não dispensa a psicoterapia, e, não raro, a religião”, afirma.
Cleide Sales, analista de comunicação, de 29 anos, namora há 4 e assume que é ciumenta. “Tenho mais ciúmes dos amigos dele do que de mulher. Não gosto quando ele sai para a balada sozinho, só com eles. Coisa boa não é”, diz. “Acho que quando ele está sozinho e passa uma mulher, pode ser que nem olhe, mas na companhia dos amigos um cutuca o outro, sabe como é”, exemplifica.
O psicólogo Thiago Almeida diz que no Brasil essa ideia de que o ciúme funciona como termômetro do relacionamento é muito comum. “Erro nosso, isso não está certo”, destaca. O escritor Ubiratan Rosa concorda. “É mentira. O ciúme é o túmulo do amor. Não o tempera. Na verdade, tira-lhe o sabor, nunca o fortalece, mas o enfraquece, e, finalmente, o destrói”, ressalta.
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