sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Natal do Senhor, Natal para você: um momento de alegria ou de melancolia?

Mais um ano se passou e, inevitavelmente, chega o final de ano. Tradicionalmente ao término do ano as pessoas tendem a ficar mais solidárias e predomina um certo sentimento de paz e fraternidade nas relações interpessoais. No entanto, parece que tais atitudes se limitam exclusivamente a essa época do ano, como se, na verdade, representassem mais uma obrigação moral e cristã, mesmo que isso não seja admitido. Tanto que, no restante do ano, esses sentimentos ficam em segundo plano.
 É Natal! Quais as imagens que lhe vêm à mente ao escutar esta palavra? E os sentimentos que estão associados a essa data, são de alegria ou melancolia? Por que o Natal (para o bem e para o mal) mexe tanto com o sentimento das pessoas?
Neste momento incomparável da noite de Natal, os sentimentos serão diversos e, não raramente, paradoxais. Por um lado quando nos próximos dias 24 e 25 de Dezembro grande parte da população cristã ocidental comemora com alegria a data simbólica do nascimento de Jesus Cristo. Por outro lado, há os que são dominados por certa melancolia nessa época do ano, muitas vezes resultante de não terem com quem compartilhar essa data ou mesmo por acharem que ela os obriga a um convívio forçado com familiares com os quais, na verdade, não têm muita intimidade. Outros ainda não vêem muito sentido em comemorar nada, diante do balanço que fazem da própria vida. Se é algo assim tão universal, por que tem tanta gente que não gosta de Natal? A que se subordina este pesar existencial, esses sentimentos difusos de tristeza e solidão são comuns no período de final de ano?
Na sociedade ocidental, o Natal remete à solidariedade, à união e ao amor. Se existe desavença ou discórdia provavelmente haverá aqueles para os quais esta data terá uma visão negativa. É como se a data perdesse o significado. Por ocasião do final do ano, as pessoas se perguntam qual o sentido de sua existência, questionam sua relação consigo mesmo, com a família e com o mundo de modo geral e acabam chegando à conclusão de que talvez estejam melancólicos porque para muitos, não há presentes. Não há comida. E a família não é o ideal que se imagina, pois, o homem contemporâneo festeja o Natal, mas mantém uma relação frouxa com a família e a data pode evidenciar, esta farsa, ao refletirmos um sem número de ligações frouxas e de aparência que estabelecemos diariamente. Pensando assim, ocasionalmente a melancolia seja também um pouco constitutiva do Natal, pari passu, com a alegria. E, por vezes, o Natal não seja tão colorido quanto os dos comerciais na TV e, infelizmente, sem se dar conta, para algumas pessoas Jesus ainda é uma escultura de pedra nas catedrais e uma ficção nos corações.
 Paralelamente ao espírito de congregação natalino que inunda o coração de muitos, desavenças familiares, o simbolismo de consumo e fartura também colocam em dúvida o real significado do Natal. Por conta disso, o sentimento de solidão se acentua ainda mais para aqueles que não estão perto da família ou que perderam recentemente alguém querido.
Normalmente esta melancolia aparece em datas festivas como o Natal e o Ano Novo, ou mesmo a páscoa, que são períodos em que as pessoas saem do corre-corre da vida para se dar conta da mesma, do tempo, da finitude, do que foi e do que poderia ter sido. Nessas datas especiais, todavia, nos damos conta da temporalidade e da finitude. Neste sentido, a raiz da melancolia, acredito eu, tem ligação com essa infância que tivemos e que habita ainda em nós. A melancolia existe porque a sua razão de ser é ainda mais profunda: remete-nos para o sentido da vida. Melancolia tem relação com a necessidade de recuperar algo que foi perdido, ainda não saibamos bem o que seja.
Dessa forma, visitas de final de ano, quitutes natalinos, cartões de Boas festas que inundam os correios, muitas vezes correm o risco de se tornarem meras manifestações protocolares de caráter social, que no íntimo é para dizer ao outro que eu me lembrei dele, mas servir também de aviso ‘velado’ para que o outro se lembre que eu existo também, por favor. É uma tentativa de escape da solidão no meio dos ‘homens de boa vontade’. É claro que amenizar a tristeza na companhia de amigos ou de outros familiares deve ser feito apenas se a própria pessoa se sentir confortável dessa maneira. Se achar que vai estar melhor sozinha, o momento deve ser respeitado. Não há uma fórmula ideal que integre bem estar e o espírito natalino.
Ao sabor agridoce das nossas desavenças, de nossos planos irrealizados, borbulham taças de brindes sem fim, devido a expectativa de celebração de muita comida. Assim, para muitos, Natal e Réveillon são os maiores algozes de nosso subconsciente, pois são momentos de fazermos uma análise em nossas vidas. Ilustrando: é a hora que o garçom traz a conta. E, não temos como fugir dela, ainda que tenhamos esquecido a carteira. Em outras palavras, desta dor melancólica, que muitos sentem no Natal, não se pode fugir completamente. Não há esquiva suficientemente eficaz. Tudo é paliativo. É o momento de repensar muita coisa que aconteceu neste ano que passou, talvez até por mais tempo, e ver se a sua vida está valendo à pena.  Tudo é cobrança. Tudo é incerteza. Tudo é solidão. Todos os arrependimentos aparecem, sem mais, nem menos.
Natal é melancólico até porque a maioria das pessoas no mundo não tem nada a celebrar mesmo, e as que celebram nem sabem por que estão fazendo isso. Muitas famílias que se reúnem não se gostam, ou quando se juntam, acabam bebendo demais e falando coisas que não teriam coragem de resolver sóbrias.
Então, como então resgatar o verdadeiro sentido do Natal? Não se trata de uma tarefa fácil, já que este resgate deve começar agora, e a partir dos nossos corações. É indispensável uma reflexão mais profunda sobre os valores do Natal meditando uma epopéia de pelo menos 2010 anos atrás. E você, como celebra a data: com alegria ou com um pesar existencial?

Um comentário:

  1. Concordo com seu artigo. Eu me sinto melancólica e solitária neste período do ano. Apesar das festas e comemorações do período, de ser um momento de confraternização, alegria, religiosidade, relaçoes fraternais com familiares e amigos, compartilho esse sentimento com muitas outras pessoas que também sentem-se sós e contemplativas. Talvez até pelo momento que nos remete a "quitação" de mais um ano vivido, os sentimentos nos remetem a coisas não feitas, pessoas esquecidas, tempo perdido. Acredito que quando deixamos de acreditar em Papai Noel e a magia se quebra, nos tornamos adultos frustados por acharmos que não mais podemos viver, sonhar, acreditar. Mas eu sou otimista e sempre tenho esperança que o próximo ano será melhor e assim os anos vão-se passando e com eles todos os Natais também... (Zi)

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