domingo, 14 de abril de 2013

Coroa, cristão, nerd. A busca do amor na web


AE - Agência Estado
Coroa, gordinho, evangélico, deficiente, gay, emo, torcedor, nerd, adúltero ou funcionário público. Contrariando o ditado de que os opostos se atraem, milhões de pessoas procuram parceiros parecidos consigo mesmos em sites de relacionamento cada vez mais segmentados.
Aos 56 anos, a engenheira Iara Paes de Almeida estava cansada de receber, nos sites, cantadas de molecões aventureiros. Aderiu ao Coroa Metade, para pessoas com mais de 40. "Estou entre os que têm mais passado que futuro. Não quero brincadeira, quero relacionamento sério."
Ela está separada há 20 anos e, com as duas filhas já adultas, começou a sentir cada vez mais falta de um companheiro. A inscrição no site teve resultado rápido. Hoje é cortejada por um homem de 56 anos, um de 62 e outro de 65. Um deles largou na frente e já fala pelo telefone com Iara. "Não quero relacionamento virtual. Quero um cara que vá ao cinema, ao teatro, a shows."
Há pouco mais de quatro meses no ar, o site tem 17,4 mil cadastrados. O criador da página, Airton Gontow, de 51 anos, se inspirou ao reencontrar amigos que não via havia 30 anos em uma festa. Mais da metade estava separada. "Escutei muito durante a festa: ?Eu conheço mulher fácil, saio para night. Companhia eu encontro, mas companheira não?", disse Gontow.
A onda de segmentação fez com o arquiteto de informação Maicon Santos, de 30 anos, criasse 11 redes sociais diferentes. O Na Medida reúne o Amor de Peso, Amor de Idade, Amor Nerd, Amor Vital (para soropositivos), Amor Normal (para deficientes), entre outros. A maioria dos sites faz cadastro gratuito e cobra por vantagens, como mandar mais mensagens e poder colocar mais fotos no perfil.
Felicidade
Santos comemora os resultados. "Recebi e-mail da mãe de um rapaz com síndrome de Down que contou que o filho conseguiu passar a se relacionar com outras pessoas."
Sua criação mais famosa é o Namoro Estável, voltado para funcionários públicos. A servidora federal Adriana (nome fictício), de 36 anos, gostou da ideia. "Meu ex-marido não era servidor e vivia me ridicularizando. Sabe aquela história do cara que não passa em concurso e fica desdenhando?" Ela diz que entrou na página para procurar amigos. "Mas se aparecer aquele cara legal, por que não?"
Guetos virtuais
Os sites de relacionamentos para grupos cada vez mais específicos liberam pessoas tímidas para agir com mais naturalidade em meio aos iguais. No entanto, alertam especialistas, as páginas também criam guetos e a segregação pode acabar fazendo com que algumas pessoas caiam no tédio.
"Essa similaridade faz com que pessoas se comportem de forma mais natural e não fiquem na expectativa de ter um perfil diferente ou serem vistas como diferentes", diz Thiago de Almeida, psicólogo especialista em relacionamento amoroso. "Mas, se não entram novos membros no grupo, as pessoas podem ficar desgostosas", afirma.
A necessidade de encontrar iguais é antiga. Antes da internet, por exemplo, já havia os grupos de dança frequentados por idosos que acabavam formando novos casais. Depois, a primeira grande rede social a virar moda no Brasil, o Orkut, passou a desempenhar esse papel. "No Orkut, havia as comunidades de que você quisesse. Com a transposição para o Facebook, perdeu-se esse espaço", afirma Andréa Jotta, professora do Núcleo de Pesquisa da Psicologia e Informática da PUC-SP.
empresário Marcos Vieira, de 33 anos, notou que a internet serve para promover encontros há 14 anos, quando abriu seu primeiro site. Em 2009, notando a tendência de segmentação do mercado, criou o Romance Cristão, para evangélicos. Ele afirma que as histórias de casamento são muito mais comuns entre os frequentadores de igrejas. "São muito poucas as igrejas que têm encontros para grupos de solteiros. Às vezes, a pessoa que ela procura não está na igreja que frequenta, mas na do bairro vizinho ou na cidade vizinha", afirma.
As vezes a pessoa pode estar ainda mais longe. O operador industrial Roberto Oliveira da Silva, de 35 anos, encontrou sua cara-metade no Ceará. O esbarrão só podia mesmo ser virtual. "Ela diz que minha foto apareceu na página dela e ela clicou. Então, eu entrei em contato com ela", lembra Silva.
Depois do primeiro encontro na internet, as coisas andaram rápido para ele e Jéssica Gerliane Lima dos Reis Silva, de 22 anos. "Em três meses, a gente conversou, eu conheci a família dela, ela conheceu a minha e a gente marcou o casamento", afirma. Detalhe: todo o namoro aconteceu pela internet.
Evangélico, Silva já havia sido casado antes e os dois relacionamentos não deram certo. Antes de marcar o novo casamento, os dois procuraram se conhecer o melhor possível, dentro dos limites que o computador impõe. "Para mim, não teve nenhuma diferença, tentamos tirar nossas dúvidas conversando pela internet", disse. "Pelo Skype, eu mostrei meu ambiente familiar, ela mostrou o dela. Ela me viu fisicamente, ela se mostrou com a devida precaução, respeito", diz.
Pessoalmente, o casal só foi se conhecer na semana do casamento, quando Silva pegou um voo para Fortaleza. "Ver a pessoa que você tanto quer. Foi um choque, mas não foi uma surpresa, porque a gente se conhecia", diz.
O casamento aconteceu há dois anos. "Tive outros dois relacionamentos que não deram certo e, com ela, tudo funciona. Nós pensamos parecido, a gente almeja conquistar as mesmas coisas", diz. A maior conquista do casal deve chegar em dois meses. E será um menino. O nome já está escolhido: Caleb Emanuel. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.