Não importa se o casal está junto há 5, 10, 20 anos ou até mais. O fato é
que a qualquer tempo o fim de uma relação é sempre uma experiência
dolorosa. Por isso, às vezes nos fazemos de cegos, fingindo que o amor é
o mesmo, que ainda há vontade de ficar próximo, de saber como foi o
dia... Os sinais de que o relacionamento acabou estão presentes no dia a
dia, mas não é fácil identificá-los, pois brigas e crises nem sempre
são sinais do fim. Cabe a cada um a tarefa de saber como identificá-los.
Pessoas maduras têm, naturalmente, independentemente do tempo de
relacionamento, maior dificuldade de colocar fim a um relacionamento. O
instrutor e membro da Sociedade Brasileira de Programação
Neurolinguística (SBPNL) Alexandre Bortoletto diz que existe um desgaste
natural do tempo e dos interesses em grandes relacionamentos. O que
mantém o casal não é o tempo, mas a cumplicidade e os objetivos de
estarem juntos. "O oposto do amor não é o ódio, mas o desinteresse. Se
não há mais interesse de alguma das partes de estar perto e com o
parceiro, esse é um sinal de que amor está se esfarelando. Culpa, dogmas
religiosos ('não pode divorciar', conceitos que vêm dos pais), o medo
de ficar sozinho, de achar que perde mais do que ganha e o medo da
solidão são os fatores mais comuns que impedem pessoas de por um ponto
final na relação. Apenas o interesse, a preocupação, o ‘fazer algum
sentido’ são as chaves que seguram qualquer relacionamento", enfatiza
Bortoletto.
É importante, portanto, saber diferenciar o fim iminente de uma
simples crise passageira. "Na Neurolinguística, acreditamos que uma
crise é um ótimo momento pra mudar alguma coisa. Veladamente, assumimos
um contrato quando casamos. Além do de papel, há o contrato moral,
emocional. Este, no entanto, muda toda vez que aparecem as crises. Todo
revés e toda crise são oportunidades de rever o contrato. Alguma coisa
na relação não está fazendo bem para ambas as partes. Quando o problema é
resolvido, o casal volta melhor até do que estava antes. As crises são
importantes, pois forçam a mudar o que está estabilizado para melhor. O
indicador do fim não é a briga, mas a falta de interesse, de desejos em
todos os níveis", avalia Alexandre.
É importante saber diferenciar o fim iminente de uma simples crise passageira
Tempo não significa fracasso
Para os especialistas em relacionamento humano, não é exatamente
o tempo que azeda a relação de gente tão apaixonada. Por isso, não
tenha medo dos aniversários de casamento: dois, cinco ou sete anos são
apenas números cabalísticos. ‘‘Não existe uma data marcada para um
relacionamento começar a desmoronar’’, sentencia o psicólogo Thiago de
Almeida, especialista em crises de relacionamento. ‘‘Em geral, existe
alguma novidade que causa estranhamento entre os parceiros, mas há
recursos para enfrentar isso’’, orienta.
O planejamento dos filhos, segundo Almeida, é um dos motivos que
podem levar à desunião. ‘‘Não é que um filho separe ou junte o casal,
mas muda a rotina dele. E o problema é que algumas mulheres estão mais
preparadas para ser mães; outras, para ser companheiras’’, analisa.
Fases
Doutor em psicologia pela USP e autor de três livros sobre
conflitos amorosos, Ailton Amélio da Silva diz que a relação tem fases
previsíveis, daí o mito das datas perigosas. ‘‘O que as pessoas chamam
de crise dos sete anos, por exemplo, pode ser só um momento que coincide
com a vinda dos filhos. A culpa não é da passagem dos anos, é dos
acontecimentos’’, diz. Para outros, em dois anos, quando vence a
validade da paixão, ainda não há maturidade para viver o amor, que seria
um estágio mais calmo da relação, segundo Silva. ‘‘Aí o sexo
enfraquece, vem a traição, um outro motivo de crise’’.
Na avaliação da advogada Renata Guimarães, do ramo do direito de
família, as traições não são mais as principais responsáveis pelos
conflitos conjugais. ‘‘Com o tempo, o casal muda profissionalmente e os
filhos crescem. E aí os parceiros se distanciam, optam pela separação.
Nos últimos anos, em vez de armar um 'barraco' por causa de uma traição,
como acontecia nos anos 90, eles passaram a fazer acordos mais
amigáveis para expressar esse distanciamento’’, revela.
Rotina como aliada
A psicóloga Lidia Aratangy, terapeuta de casais há mais de 30
anos e autora de três livros sobre o tema, sai em defesa da rotina -
apontada por muitos casais como pivô das separações. ‘‘Rotina existe
para facilitar a nossa vida, não é negativa. Além disso, todo mundo é
diferente a cada semana. O problema é que ninguém se conhece o
suficiente para ser transparente com o outro’’, analisa. Segundo Lidia, o
que faz com que uma crise leve ao fim do relacionamento é a própria
fantasia da perfeição. ‘‘Não é só um casal conhecido que passa por esse
estigma da perfeição, por esse mito de existir a metade perfeita da
laranja. No fundo, é difícil um casal descobrir que é igual aos
outros.’’
Para alguns casais, conflitos conjugais representam sinais de
que não há mais motivos para insistir na união. ‘‘A longa convivência
faz com que o casal perca o interesse social e sexual. Tudo enjoa’’, diz
ela. ‘‘A mulher se lembra de datas importantes, o marido não. Ela quer
dar atenção à casa e aos filhos, e ele se esquece disso’’, completa.
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